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terça-feira, 21 de setembro de 2010

V Semana de Biblioteconomia da ECA/USP

Para quem ainda não sabe, sou estudante de Biblioteconomia. Se tudo der certo, me formarei neste ano e serei uma Bibliotecária.

Toda vez que falo o nome do meu curso ou a minha profissão a alguém que não conhece a área escuto a mesma pergunta: - Biblio o quê?
E, logo em seguida, vem: - E quem faz Biblioteconomia trabalha em que?
Ou, ainda, faz logo a associação mais conhecida: - Ah! Você trabalha em biblioteca? (e logo vem aquela imagem de uma biblioteca escura, úmida, mal arrumada com uma bibliotecária velha, gorda, de óculos e cara amarrada que preza pelo silêncio absoluto...)


Bom, para mostrar às pessoas o que fazem, onde atuam os Bibliotecários e dissipar as dúvidas e a imagem antiga e inadequada que reina no senso comum com relação a essa profissão, a V Semana de Biblioteconomia da ECA/USP deste ano vai tratar do tema: "As áreas de atuação do Bibliotecário". Com o slogan: Biblioteconomia: Como? Onde? Por quê? as palestras, mesas-redondas e atividades terão por objetivo abordar, informar e mostrar os diferentes campos de atuação desse profissional, imprescindível para as organizações, por ser o especialista na questão de organização, gerenciamento e disponibilização da informação, insumo fundamental em todas as áreas de nossa sociedade.
A Semana terá, também, a estréia do BiblioLab. Inspirado no TED [sigla de Tecnology, Entertaiment e Design], ciclo de palestras que acontece uma vez por ano na Califórnia, onde cada palestrante tem 15 minutos para mostrar a sua “idéia para se espalhar”, o BiblioLab será composto por palestras de alunos (em formação e recém formados) de Biblioteconomia. O intuito é abrir um canal de comunicação e divulgação sobre algum assunto de domínio, projeto idealizado ou realizado, experiência ou ideia em que o palestrante acredita.
Será uma grande oportunidade para compartilhar ideias, impressões, opiniões e conhecimentos.


Faço parte da Comissão Organizadora da Semana e convido você a fazer parte deste evento!



V Semana de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP)
De 27/09 à 01/10



A Semana de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) é em evento acadêmico que objetiva estimular e promover o espírito crítico em relação à formação e à atuação do bibliotecário; aproximar a USP à comunidade bibliotecária paulista e divulgar o curso de Biblioteconomia na ECA/USP e em outras instituições relacionadas com a área, mostrando a multiplicidade de atuações do bibliotecário e a interdisciplinaridade da carreira com outras áreas.
O evento é organizado por alunos do curso de Biblioteconomia da ECA/USP e de outras Instituições de Ensino em Biblioteconomia e Ciência da Informação e, neste ano, está sob a orientação do Professor Waldomiro Vergueiro e tem o apoio do departamento de Biblioteconomia e documentação (CBD). Serão promovidas palestras e mesas-redondas com convidados e ex-alunos do próprio curso. As atividades ocorrerão entre 27 de setembro a 01 de outubro de 2010.

Neste ano o tema da V Semana de Biblioteconomia será “As áreas de atuação do bibliotecário” e contará com mesas-redondas sobre Bibliotecas, Centros de Documentação, Centros de Memória, Consultorias, Arquitetura da Informação, Documentação Audiovisual, Área Acadêmica: pesquisa e docência e uma palestra sobre Bibliotecários no mundo: a experiência do profissional de outro país.
Para ter acesso à programação completa e realizar sua inscrição, acesse o site

http://www.cabieca.com.br/semanabiblio/.

Também é possível acompanhar a V Semana de Biblioteconomia pelas redes sociais
Twitter e Facebook.

Comissão Organizadora da V Semana de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).



domingo, 8 de agosto de 2010

Como posso construir um foguete?



Estava assistindo o Zoom. Realmente a melhor coisa a se fazer numa noite fria de sábado, depois de jantar em companhia dos pais, quando não se foi a uma balada ou se esqueceu de passar numa locadora antes da sexta a noite... Reconheci a animação, aliás ia pesquisar no site para me certificar de que aquela não era a primeira vez que a via ali... pois lembrei dela logo de início... me deu uma sensação boa... lembrei de como eu me sentia na primeira vez que a assisti... lembrei do final... e a vi com atenção e afeto... aquele carinho que a gente sente por aquilo que conhece, sabe? "Rua das tulipas" é o nome da animação. E, no meio dela, surge o questinamento, que não vou lembrar EXATAMENTE como é... mas que dizia... "- E quando já se construiu tudo aquilo que se sonhou? - E quando não se tem mais sonhos?"... E foi aí que tive o estalo... que descobri que era isso o que eu precisava (e buscava) tanto saber em todos os dias da minha vida, há quase 2 anos... Porque eu pensava muito em tudo e em nada. Passava horas divagando, me desconcentrava do que estava fazendo, me fechava, me isolava... só pra pensar e achar uma resposta e tentar entender tudo aquilo que estava acontecendo. E tudo aquilo virava nada, me deixava estagnada. Era uma constante busca em saber por quê? por que estava sentindo tudo aquilo? Até que dei conta que "aquilo" não era sentimento... era a "falta" dele. Eu precisava entender por que não sentia mais nada... Por que estava tão vazia... Até que aquela pergunta, aquela animação, me mostrou o que não conseguia enxergar.


Estalo.


É isso: Eu não tenho mais sonhos.
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Vazio.

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Como posso construir um foguete?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O abraço

Sabe aquele abraço? Aquele que você recebe num momento de profundo desespero... quando a desolação é tamanha que chega a doer fisicamente?
Ele vem de forma totalmente inesperada, mas, mesmo com curta duração, tem o poder de anular todo o sofrimento por alguns longos segundos... Durante ele a gente entende que são nos momentos de maior dor que temos também a chance de encontrar o carinho sincero. É aquele abraço verdadeiro, que realmente te conforta. É estranho, mas consegue expressar uma concreta troca de sentimentos. É intenso. E não é necessário trocar uma palavra sequer... É aquele abraço que sucede apenas uma troca de olhares... e tudo fica suspenso... Neste momento, as emoções, a troca de sentimentos, são as únicas coisas que acontecem, como se tudo, todo o resto, simplesmente deixasse de existir.
Palavras não são capazes de descrever a intensidade desse gesto. Somente quem o sentiu pode entender. É um abraço que a maioria das pessoas nunca trocou e nem trocará durante suas vidas... É raro... resulta da somatória de diversos fatores... é uma química... chega a ser místico... Um gesto que exprime uma compreensão mútua.
Compreensão............. compreensão............... talvez seja essa a grande chave... o que o torna único, que o destaca de todos os outros... Porque, não, esse abraço não é “mais um”. É completamente diferente dos demais, hoje em dia tão mecanizados, tão vazios, tão falsos... tão sem sentido...

Esse abraço não é racionalizável. É profundamente sincero e espontâneo, aí entra a questão da química, porque é preciso que seja assim de ambas as partes para que toda a silenciosa explosão de sentimentos seja mútua.
Os momentos de maior dor podem, também, nos trazer as maiores surpresas... que nos fazem perceber que a vida é uma mistura. Não há maniqueísmo. Muitas vezes, temos a impressão (ou até mesmo a certeza) de que estamos vivendo ou sentindo algo predominante; nos esquecemos de que nada é unilateral. E... na maior parte das vezes... são atos simples e muito pequenos que conseguem realizar a mágica de nos fazer perceber que a maior oportunidade de aprendizado está na multiplicidade e na simultaneidade das emoções que a vida é capaz de nos dar.
Naquela madrugada fria, no jardim, enquanto olhava para o céu (não sei dizer se haviam estrelas, era aquele olhar que não vê...), escutei um carro estacionando, me virei, avistei um táxi e tive um sobressalto... Ele veio em minha direção, eu já em soluços... e tive a felicidade de receber esse abraço num dos momentos mais dolorosos de minha vida. Confortou-me naquela madrugada fria e me conforta até hoje, pois todas as vezes que me vem à memória junto vem também tudo o que senti. Foi um momento de profunda tristeza, mas aquele abraço aqueceu minha alma, meu coração...


A memória é uma coisa surpreendente, é capaz de nos trazer de volta não só histórias, mas cheiros, sensações, sentimentos... E a lembrança desse abraço me faz reviver aquele momento de conforto, aquela sensação de cumplicidade na dor e a certeza de que ela, apesar de triste, pode nos proporcionar serenidade.

domingo, 11 de julho de 2010

“I try to say good-bye, and I choke; Try to walk away, and I stumble”

25/11/2008 – 23:55h
Acordou com o toque de mensagem do celular: "Oi, sabe que o ele não tá bem? Bj."

Meses antes
- Posso mesmo ir à reunião? Tem certeza? Não vão achar que sou uma “intrusa”?
...
- Então tá bom, te encontro lá por volta das 18:30h, mais ou menos, pois como sabe dependo do trânsito...

Final de tarde de agosto, Centro Cultural São Paulo.
De todos que lá estariam, conhecia apenas uma pessoa, que estava se tornando um grande amigo e companheiro. Ficou com receio. Afinal, sempre foi de expressar suas opiniões, sugerir suas idéias... muitos não estão abertos a essas “trocas” quando vindas de uma desconhecida... Mas ela foi. Estava determinada a preencher todo o seu tempo de toda forma que pudesse, na esperança de que essa atividade conseguisse, ao contrário das demais, realmente ocupar sua cabeça, desviar seu pensamento.
Ficou feliz com o resultado da reunião. Foi bem recebida e aceita para integrar uma das comissões organizadoras. Agora era partir para o trabalho.

A necessidade de preencher sua vida de modo a tentar neutralizar todas as lembranças, todo o turbilhão de sentimentos que lhe traziam, era tamanha que mergulhou de cabeça nesse novo projeto. Passou de integrante da Comissão de Patrocínio para integrante da Coordenação Geral. Cuidou da divulgação, organização dos alojamentos, da contratação dos banheiros químicos, da tenda, da última festa do evento, das inscrições... não parou. Durante 8h fazia seu trabalho no Centro de Documentação da empresa em que trabalhava e durante as 24h do dia pensava e trabalhava para realizar o encontro dos estudantes.
As tentativas anteriores tinham falhado. Desde o dia em que aquele e-mail pôs um fim no que havia, e ela sabia que era preciso ocupar a mente.
Assim vieram os cursos de literatura, de poesia, de história da arte. Queria retomar os estudos sobre os assuntos que gostava e que havia, de certa forma, abandonado, por tantos motivos. Saía do trabalho e alternava suas noites entre as aulas na faculdade, a Casa das Rosas, a Biblioteca Alceu Amoroso Lima, as aulas no MASP (aos sábados) e às idas à Pinacoteca do Estado.
Já vinha pensando em tudo, antes mesmo do fim. Conseguiu sentir mas não racionalizar. E ainda não tinha conseguido. Entretanto, entendeu que precisava parar de pensar em tudo aquilo. Escutava Macy, no metrô, (“I try to say good-bye, and I choke; Try to walk away, and I stumble”...) e (fazia tanto sentido) compreendia isso tão bem… E não importava se estava escutando algo ou não, chorava no metrô, no ônibus, no meio do almoço na praça de alimentação do shopping que freqüentava de segunda à sexta. Não controlava as lágrimas e os soluços e a tristeza e a dor. O choro acontecia em frente ao seu computador no trabalho, enquanto caminhava pela rua, durante o banho, deitada na cama. E depois de muito, muito tempo, percebeu que precisava ocupar sua mente de forma que pudesse estancar tudo aquilo.
Sempre se preocupou em não demonstrar seus sentimentos. Nunca gostou disso. E agora, que não podia controlar, preocupava-se.
Com a responsabilidade de organização do evento vieram também as novas amizades, tímidas de início, mais relações de trabalho... porém conseguiu estreitar laços com pessoas diferentes, que despertavam sua curiosidade... sabe aquele sentimento de empatia? Ela sentia por alguns, e conseguiu se aproximar.
Reviveu os tempos da faculdade no interior. As conversas sobre disciplinas, as opiniões sobre a profissão, o mercado de trabalho, professores, os rumos políticos da faculdade, as festas, as músicas... enfim, reencontrou-se, de certo modo, com o mundo que tinha deixado.
Óbvio que não tinha esquecido. Não havia um dia sequer que passasse sem pensar, em tudo o que viveu, no que havia se tornado e nas milhares de hipóteses que criava em sua cabeça para tentar entender como as coisas tinham caminhado para aquele fim. Continuava sendo difícil, sim. Mas o trabalho na organização tinha conseguido amenizar a angústia, a dor e controlar (um pouco) as lágrimas.
Na manhã do primeiro dia do encontro, os ônibus chegavam de São Carlos, Rio, Minas, Paraná, Goiânia... e, enquanto realizava as inscrições da galera, começou a sentir-se mal... não soube explicar ao pessoal o que exatamente estava sentindo. Vendo que piorava, deixou a mesa das inscrições e saiu para respirar melhor debaixo das árvores que balançavam levemente com a brisa que soprava. Ficou ali por uns 20 minutos. Achou que fosse desmaiar. Sentiu tontura e um vazio... um vazio imenso... ficou angustiada. Pensou em ir ao HC, mas decidiu controlar tudo aquilo sozinha, mesmo não tendo a menor ideia do que estava acontecendo. Tinha comido na noite anterior, tinha dormido (bem pouco, é verdade), mas estava acostumada, e não estava “preocupada” com o evento ao ponto de passar mal por isso. Conversou consigo mesma em pensamento, respirou fundo por muitas vezes, pensou... O vento foi soprando em seu rosto, em sua nuca, acalmando o peito e fazendo sua cabeça ficar um pouco mais leve. A angústia foi minimizada. Voltou para as inscrições.
Durante os quatro dias de evento ela e todos os envolvidos na organização e apoio não pararam. Dias longos. A noite de sono mais longa durou 3h e meia. Muito, muito trabalho, alguns estresses, muita coisa pra resolver, correria e, também, muita gente diferente, muita troca, palestras, boas risadas, música, interação. Foi um momento ímpar. Um grande aprendizado.
Ao final do evento, uma amiga querida que tinha feito parte do melhor ano de sua vida, chegou para passar 2 dias em sua casa. Precisava tirar seu visto no Consulado, para viajar para os Estados Unidos e aproveitaria para matar a saudades.
Ficou feliz com a companhia. Afinal, não se viam há quase 1 ano. Fizeram os passos necessários: banco, consulado, Mc Donald’s, casa. À noite, mais conversas do que sono (o básico nas noites entre amigas) e então ela foi embora.
Estava exausta, mas feliz com todos os acontecimentos de sua última semana. Sentiu que poderia recuperar a vontade de se entregar as atividades que gostava com a mesma dedicação de antigamente. Voltou a sentir orgulho do seu trabalho, do modo como encara as diversas situações. Voltou a ter confiança. E, o que mais a impressionava, a maneira como agiu: com a calma e tolerância, que não eram comuns. Não, não era intolerante, arrogante, briguenta. Não era uma pessoa descontrolada, mas a verdade é que não costumava ter muita paciência com pessoas que não tinham o mesmo “ritmo” que o seu.
Na quinta-feira pela manhã tinha uma reunião importante no trabalho. Foi dormir mais cedo. O corpo já mostrava os sinais de cansaço acumulado nas últimas semanas.
Às 23:55 acordou assustada com o som do celular. Odiava acordar com toque de telefone, campainha, alarme... Tinha recebido uma mensagem. Sonolenta, leu: “Oi, sabe que o ele não tá bem? Bj.”
Em seguida, ligou de volta.

- Sabe que ele está doente?
- Sei que esteve doente, mas que já está bem. O que tem?
- Está internado, na UTI, e está muito mal. Não sabia se estava sabendo, então resolvi te falar...
- Como assim? Ele mesmo me disse que tinha ficado doente há uns 2 meses, que chegou a ficar internado, mas me garantiu que já estava bem. Que não havia sido nada de sério...
- Esteve mesmo, mas ficou mal de novo e desta vez... não sei... estão todos muito preocupados... ele está muito mal... a família está com ele.
- Meu Deus... eu não sabia! Ninguém me falou! Mas... como?! Como não soube disso antes?! ... Vou falar com a mãe dele, vou ver o que posso fazer... Obrigada por ter me avisado.
Desligou o celular completamente desnorteada. Abriu a porta do quarto, desceu as escadas e foi para a cozinha. Um milhão de pensamentos passavam por sua cabeça e ela parecia estar caindo em um buraco sem fim. Estava tonta.
Sua mãe tinha chegado a poucos minutos do trabalho e estava jantando. Ela contou sobre o telefonema e começou a chorar. Sua mãe lhe fez um chá, a consolou e orientou para que ligasse para os pais apenas pela manhã, pois já era tarde...
Voltou para a cama e tudo parecia tão surreal.
Na manhã seguinte, foi para o trabalho. Antes de entrar na reunião, ligou. Teve que correr para o banheiro. A mãe dele estava na capela, rezando, quando atendeu o telefone e desabou num choro repleto de soluços quando reconheceu a voz de quem ligava. Realmente era muito grave. Prometeu ir ao encontro deles no mesmo dia.
Desligou o celular, respirou fundo, lavou o rosto e foi para a reunião. Apenas o corpo presente. Pensava em pesquisar os horários de ônibus, comprar a passagem, avisar os pais, passar em casa e correr para a rodoviária.
Reunião terminada, pegou sua bolsa e saiu. Ligou para os pais e também para a amiga, aquela que dois dias antes tinha recebido em sua casa. Agora seria a vez dela a receber.
Durante os 8 anos em que morou fora, seu pai sempre a levou e a buscou da rodoviária sem a companhia de sua mãe. Desta vez, os dois a acompanharam. Estacionaram o carro, foram ao guichê, compraram a passagem e a embarcaram no ônibus.
Ele estava mesmo muito mal. Tinha sido internado na quinta-feira anterior. Coincidentemente, ou não, no dia em que teve o mal estar.
Estava na UTI, consciente, mas não falava e não se mexia. Apenas movia os olhos.
A primeira vez que entrou para vê-lo, estava dormindo. A medicação o fazia dormir e inchar muito. Seu rosto estava diferente, mas ainda era o cara que amava. Não se viam há um ano e sete meses. E assim que o viu tanta coisa veio à tona... Estava deitado, cheio de aparelhos, tubos e com o lençol abaixo dos ombros. Viu seu peito, teve uma imensa vontade de abraçá-lo, de senti-lo e deitar sua cabeça nele, como havia feito tantas vezes.
A pedido dos pais dele, saiu da casa da amiga e foi ficar no apartamento com eles. Momento doloroso voltar a colocar os pés naquele apartamento. Ainda mais naquela situação. Ainda cheia de feridas abertas... a última vez que havia estado lá já sentia que as coisas não estavam bem entre eles... mas estava engasgada... não conseguia entender o que estava sentindo, o que estava acontecendo... e as lembranças daquele último carnaval juntos machucavam demais. Somava-se a isso o fato de ele não estar ali. Mas manteve a pose. Somente ao entrar no banheiro, com o chuveiro ligado para abafar o som, é que desmoronou em lágrimas. Sentia o peito mais apertado que nunca. Meus Deus, como doía.
No dia seguinte, entrou para vê-lo junto com uma das amigas dele. Estava acordado. Meio “grogue”, mas acordado. A amiga conversou muito. Ficou do lado direito da cama, enquanto ela no esquerdo, um pouco mais afastada. Sempre agia assim, essas situações a travavam. Ficou calada. Invejando a facilidade de expressão de sentimentos da amiga que citava os nomes das muitas pessoas que estavam lá no saguão do hospital para ter notícias dele (e que não podiam entrar, já que a visita era limitada a 2 pessoas, além dos pais). Foi então que percebeu que ela tinha esquecido de um nome e o falou em voz alta.
Imediatamente ele virou o rosto para o lado de onde tinha vindo a voz. Então ela se aproximou um pouco, a amiga dele disse quem estava ali e nesse instante, uma lágrima rolou no rosto dele. Ele reconheceu minha voz, pensou. E travou mais ainda. Não conseguiu dizer nada do que realmente queria... mas disse que estava lá e acreditava em sua recuperação.
Era uma contradição, uma de suas maiores características era justamente falar o que pensava, expor suas idéias e opiniões não importava em que ambiente estivesse... Entretanto, constatava diante de tudo o que vinha passando que, nos momentos mais importantes, ela se calava. Tinha uma extrema dificuldade em exprimir seus sentimentos. Assim foi com as avós, quando estavam internadas. Assim era agora. Nos momentos mais importantes, ela falhava.
Falhou por dez dias, seguidamente. O máximo que consegui dizer a ele foi o quanto sempre o admirou e o admirava. Que era a pessoa mais determinada que tinha conhecido e que acreditava que ficaria bom.
De fato era verdade, tudo o que conseguira dizer era verdade. Principalmente a confiança que tinha em sua recuperação.
Mas não deu certo. Toda a sua esperança e todos os pedidos mais profundos a Deus, à sua falecida avó, aos santos e anjos para que o ajudassem a sarar foram em vão.
E junto com a dor inconsolável da perda, do sentimento de impotência diante do irremediável, ficou ainda o pesar do nó na garganta. O nó que transformou o não dito que precisava tão necessariamente ser dito em mais dor, mais angústia... num arrependimento sem fim.

sábado, 5 de junho de 2010

O último metrô (Le dernier metró)

Quinta-feira. Em pleno feriado, estava no Studio SP para assistir ao show do Copacabana Club (que por sinal eu recomendo, muuuuito bom!) quando notei que o filme que passava no telão era com a Catherine Deneuve. Prestei uma pouco mais de atenção.
Entre músicas, dança, olhares e goles de Stella Artois, percebi que a história se passava durante a guerra. O filme retratava a Paris ocupada pelo regime Nazista.

Claro que não deu para assistir ao filme (nem era esse o meu intuito) mas ficou a dica, que casou oportunamente com meu último post. Então, incluo na lista mais esta película:


O último metrô (Le Dernier Metró, 1980)
Um dos últimos e melhores filmes do mestre François Truffaut. No elenco, os astros Catherine Deneuve e Gérard Depardieu brilham nos papéis principais. Paris, 1942. Durante a ocupação nazista, o judeu Lucas Steiner, dono de um teatro, é forçado a deixar o país. A sua mulher, a atriz Marion, dirige o teatro por ele. Ela tenta manter o teatro vivo com a encenação de uma nova peça e contrato um ator, Bernard, para o papel principal. Na verdade, porém, Lucas continua no local, escondido no porão. E é dali que, secretamente, dá continuidade ao seu trabalho de direção. O Último Metrô é um filme inesquecível sobre a vida, o teatro e o amor em tempos de guerra.
Espero encontrá-lo fácil na locadora, logo mais.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dica: 14 filmes sobre o Holocausto

Para finalizar o tema composto pelos posts "Arquitetura da destruição: a fabricação cultural de Hitler" e "Ainda sobre Hitler e o Nazismo na Alemã", coloco aqui uma lista composta por 14 filmes sobre o holocausto.

Essa lista foi publicada há exatamente 1 ano, pela Revista Época, e acredito que é a mais atualizada.
Dicas de outros filmes sobre o assunto são muito bem-vindas!





Os Falsários (dir.: Stefan Ruzowitzky, 2008)

O fim do filme foi criticado e classificado como bobo por alguns, mas a atuação de Karl Markovics no papel de Solomon impressionou e foi aclamada pela crítica e pelo público. Ele impressiona pela ambigüidade. Ao mesmo que procura sobreviver a qualquer custo, algo compreensível, ele usa para isso algumas táticas de dar arrepios.




Um ato de Liberdade (dir.: Quentin Tarantino, 2009)

Em recente entrevista publicada por ÉPOCA, o astro do filme, Daniel Craig, falou sobre a polêmica que o filme criou e disse que isso é reflexo do fato de os personagens não serem unidimensionais. Na opinião de Craig, o ponto crucial da história é que os atos dos irmãos Bielski salvaram 1,2 mil pessoas do Holocausto, “e é isso que conta no final”.




Bastardos Inglórios (dir.: Quentin Tarantino, 2009)

Durante o festival de Cannes, realizado na semana passada, o diretor Quentin Tarantino revelou que sua maior dificuldade para fazer o filme foi justamente o fato de o pano de fundo ser a Segunda Guerra Mundial. Tarantino disse que o rumo da História se tornou um muro contra o qual sua criatividade se chocava, um fenômeno novo, já que ele sempre trabalhou com total liberdade. O diretor disse, no entanto, que encontrou uma solução para o problema. "Eu estava preparado para respeitar o rigor histórico, mas depois pensei: 'meus personagens não sabem que estão na História.”


Operação Valquíria (dir.: Bryan Singer, 2008)

Com Tom Cruise no papel principal, conta a história real de um coronel alemão que se opõe ao nazismo e planeja um atentado contra Adolf Hitler. Claus von Stauffenberg passa alguns anos tentando persuadir outros militares a participar da ação e, em 20 de julho de 1944, com o apoio de oficiais não pertencentes à SS (polícia nazista), planta uma bomba onde o führer fazia um discurso. Obviamente, Hitler não morreu, mas a conspiração continuou e ficou conhecida como Operação Valquíria. Foi visto por mais de um milhão de brasileiros.

O Leitor (dir.: Stephen Daldry, 2008)
Kate Winslet ganhou o Oscar de atriz por seu papel neste filme, que começa logo após a Segunda Guerra. Ela vive Hanna, que se envolve com Michael, um jovem que tem a metade de sua idade. O romance ganha forças e é temperado por leituras de obras clássicas que ele faz a ela, a pedido da amada. Mas Hanna desaparece repentinamente. Anos depois, Michael a reencontra em um julgamento. Ele é estudante de Direito e ela, ré acusada de cometer crimes de guerra na Alemanha nazista. Essa e outras descobertas deixarão o rapaz transtornado para sempre. Sydney Pollack e Anthony Minghella, que produziram o filme, morreram logo depois que ele foi finalizado.


O Menino do Pijama Listrado (dir.: Mark Herman, 2008)

Criança e Holocausto são temas que, juntos, têm alto potencial de comoção. O Menino do Pijama Listrado, que estreou no fim do ano passado, é sobre a amizade entre dois meninos de oito anos que vivem separados por uma cerca eletrificada. Bruno é filho de um oficial nazista e Shmuel, que usa o pijama do título, está preso em um campo de concentração. Ingênuo, Bruno acha que aquela gente que vive do outro lado da cerca é camponesa, mas não entende o motivo de tanta infelicidade, muito menos da roupa listrada que seu amigo veste. As conversas com Schmuel mostram a ele o que realmente acontece do lado de lá do arame farpado e põem fim à sua ilusão.

A Espiã (dir.: Paul Verhoeven, 2006)

A cantora judia Rachel Steinn vê sua família ser assassinada pelos nazistas e resolve se transformar na espiã Elis de Vries. Para enganar a SS, a polícia nazista, chega a tingir os cabelos e os pelos pubianos para se passar por ariana. Seu plano é criar um movimento de resistência para libertar refugiados. A dupla identidade causa a Rachel sentimentos díspares, divididos entre a personagem que incorporou e seu triste passado. Retrata uma vida entre tantas que sobreviveram aos golpes profundos da guerra.

A Queda – As últimas horas de Hitler (dir.: Oliver Hirschbiegel, 2004)

O filme não fala necessariamente do Holocausto, mas mostra o suicídio de quem o liderou. A Queda revela um pouco da personalidade de Adolf Hitler, que persegue seus objetivos cegamente, e alguns de seus seguidores. O foco principal são os últimos 10 dias do ditador, visivelmente alterado, em um bunker de Berlim. Assim como o führer, muitos nazistas cometeram suicídio quando souberam que haviam perdido a guerra, com a chegada dos soviéticos à capital alemã. O filme é narrado sob a ótica da secretária de Hitler que, como tantas outras pessoas
, corroborou com o Holocausto sem querer ou saber.


O Pianista (dir.: Roman Polanski, 2002)

O diretor Roman Polanski é um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial. Judeu, fingiu ser católico no interior da Polônia para escapar dos nazistas. Mas não é sua a história que ele conta no filme. Polanski fala de Wladyslaw Szpilman, um pianista que foge de um gueto de Varsóvia, na Polônia, antes de ser levado para algum campo de concentração. Os guetos eram áreas criadas pelos nazistas para isolar a população judaica. No começo da fuga, o pianista consegue ajuda. Mas, com o prolongamento da guerra, arrasta-se por prédios abandonados, sem comida nem perspectivas. A atuação de Adrien Brody, o pianista, valeu um Oscar. O filme também ganhou o prêmio de melhor direção e roteiro adaptado.

Cinzas de Guerra (dir.: Tim Blake Nelson, 2001)

Se caminhar em direção à câmara de gás é uma tortura, imagine levar seus próprios pares para a morte. É o que fazia um grupo de judeus nos campos de concentração, os Sonderkommandos. Além de conduzir seus companheiros, tinham que levar seus corpos para a fornalha. Cinzas de Guerra relata os conflitos que esses homens viviam – até se rebelarem, em Auschwitz. É a história real do único levante ocorrido no pior campo de extermínio da Segunda Guerra Mundial.


O Trem da Vida (dir.: Radu Mihaileanu; 1998)

Um ano depois do sucesso de A Vida é Bela, os europeus lançam outro filme sobre o Holocausto, que também ganhou prêmios mundo a fora – inclusive na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O Trem da Vida mostra a trajetória de moradores de uma aldeia judia do leste europeu que, ao saberem da aproximação dos nazistas, fogem de trem para a Rússia. Para passarem despercebidos pelos alemães, fingem que foram capturados pelo exército de Hitler e estão a caminho de um campo de concentração. A bordo, há os capturados, os oficiais da SS disfarçados, a tripulação. A farsa se transforma em cruel realidade quando os passageiros começam a se comportar como os personagens que interpretam.

A Vida é Bela (dir.: Roberto Benigni, 1997)

O longa italiano foi aclamado pelo público, mas criticado pelos ortodoxos por tratar do Holocausto de uma forma mais performática (e cômica) do que austera – ainda assim, escancara para o espectador as tragédias nos campos de concentração. A atuação de Roberto Benigni como Guido, um pai com força extraordinária para salvar o filho da morte e da realidade da guerra, garantiu-lhe um Oscar de melhor ator. A Vida é Bela (que também levou os prêmios de melhor filme estrangeiro e trilha sonora) é uma espécie de fábula trágica que termina com final feliz.

A Lista de Schindler (dir.: Steven Spielberg, 1993)

Clássico sobre o Holocausto, ganhou de sete estatuetas do Oscar em 1994, entre elas o de melhor filme e diretor – o primeiro de Steven Spielberg. A Lista de Schindler conta a história real de um empresário que salvou milhares de judeus na Segunda Guerra Mundial. Antes que fossem mandados para os campos de concentração, Oskar Schindler os empregava em sua fábrica. Aparentemente atrás da mão-de-obra barata oferecida pelos presos, conseguiu o apoio dos nazistas. A atmosfera em preto e branco imprime ao filme o terror do qual aqueles judeus foram poupados e a tensão pela qual passou Schindler – um dia os nazistas descobririam que não era preciso tanta gente para operar seu negócio.

O Diário de Anne Frank (dir.: George Stevens, 1959)

O diário de uma garota de 13 anos durante a Segunda Guerra Mundial foi uma das provas mais concretas do temor pelo qual passaram os judeus naquela época. Anne Frank e sua família se esconderam durante dois anos com medo de serem levados a um campo de concentração. Sua última frase foi escrita em 1º de agosto de 1944. Três dias depois, os alemães prenderam toda a família. Anne morreu de tifo em março de 1945, num campo de concentração. Não sobreviveu para contar história, mas suas palavras ainda ecoam na luta contra a intolerância étnica. Foram adaptadas para a Broadway, para o cinema – neste filme que ganhou três prêmios Oscar – e para a televisão.

Ainda sobre Hitler e o Nazismo na Alemanha...

Tenho uma prima muuuito querida que mora na Alemanha. Vendo o post anterior, ela decidiu me enviar algumas fotos de um campo de concentração que visitou e resolvi partilhar com quem estiver a fim...




















Algumas pessoas são contra a manutenção desses locais como pontos históricos a serem visitados, mas estes "memoriais" são imprescindíceis para que toda a triste história ali ocorrida não seja
apagada da memória coletiva, jamais.





Somente sabendo o que fizemos no passado, e a consequência de nossos atos, poderemos viver sem o risco de cometermos os mesmos erros.



As fotografias são do campo de concentração de Dachau, perto de Munique, no sul da Alemanha. Foi o primeiro a ser construído e serviu de modelo para os demais. Chegou a abrigar mais de 200 mil prisioneiros de mais de 30 países. O campo chegou a possuir câmara de gás, mas não foram encontrados registros de sua utilização. Leia mais.




Para se ter uma ideia das mortes realizadas somente no campo de Dachau:

Ano - Nº de mortos
1940 - 1515
1941 - 2576
1942 - 2470
1943 - 1100
1944 - 4794
1945 - 15384*
*Houve o reaparecimento da epidemia de Tifo o que elevou a taxa de mortalidade).
(Fonte: Wikipédia, 2010.)


Para quem se interessar, aqui está o site oficial do "Dachau Concentration Camp Memorial" .

Como dito no post Arquitetura da destruição: a fabricação cultural e Hitler e o Partido Nazista, a "grande contradição dessa 'fabricação cultural' foi utilizar-se da arte e da cultura, que possuem como preceito fundamental a capacidade de diferenciação, “que move o indivíduo para longe da indiferença” (COELHO, 1989) e são instrumentos de conscientização, para um projeto que não tolerava o diferente e diluía as informações de maneira a manipulá-las para benefício dos projetos de Hitler e do Partido Nazista (ALTRAN, 2006). Por isso fala-se tanto na necessidade em se conhecer a história. Somente conhecendo-a é possível compreender o presente e construir um futuro mais justo. Ter acesso às informações de nosso passado é um preceito fundamental para formarmos cidadãos conscientes e críticos. "Conhecer" e "pensar sobre" são ações essenciais. A história não é passado. A história é o caminho para o futuro equitativo.

Os resultados do Nazismo nos mostram "o quão perigoso é abrir mão do discernimento, do senso crítico e da lucidez, fatores fundamentais para evitar que nos tornemos '“massa de manipulação' de processos como esse" (ALTRAN, 2006).


Muito já foi dito sobre tudo isso, mas há sempre aqueles que estão em busca de mais informações. Afinal, nem todos tem o mesmo grau de conhecimento...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Arquitetura da destruição: a fabricação cultural de Hitler

Escrevi o texto abaixo há 4 anos. É um brevíssimo comentário sobre o documentário "Arquitetura da Destruição", de Peter Cohen, realizado em 1992.
Peter Cohen é um cineasta sueco cujo pai, judeu alemão, foi perseguido pelo regime nazista.
"Arquitetura da Destruição" é sua obra mais famosa. Por ser um documentário de longa duração, foi separado em 12 partes no YouTube. Posto aqui a primeira parte para deixá-los com gostinho de "quero mais". Assim, quem gostar poderá assistir as demais partes diretamente pelo YouTube.



Peter Cohen, cineasta sueco, retrata em seu documentário intitulado “arquitetura da destruição” os mecanismos utilizados por Hitler e o Partido Nazista para difundir e viabilizar as idéias nazistas, utilizando para tanto, como pano de fundo, a valorização da arte e da cultura.Em 1933, Hitler chegou ao poder. Líder do Partido Nazista, arquitetou uma verdadeira transformação da Alemanha e de seu povo. Seu objetivo principal era tornar o império Alemão em uma potência mundial e seu povo em símbolo de perfeição e beleza.Resgatou os referenciais de beleza e cultura da arte Clássica (greco-romana) e da Renascença (Itália). Tudo o que fosse produzido deveria levar em consideração os preceitos clássicos. Por embasar suas atitudes nos princípios artísticos e culturais, podemos pensar em conceitos como “ação cultural” e “fabricação cultural”.A ação cultural é um processo com início claro, mas sem fim específico. Por ser “um instrumento deliberado de mudança do homem e do mundo” (COELHO, 1989), não possui “etapas” a serem seguidas, nem objetivo específico a que se deva chegar. A ação cultural deve proporcionar ao indivíduo o poder de “diferenciação” das coisas, ou seja, de questionamento, criando, assim, um senso crítico que deve ser utilizado pelo indivíduo para perceber o mundo a sua volta em todos os seus aspectos, sejam eles, políticos, econômicos, sociais ou culturais.Já a fabricação cultural, “é um processo com um início determinado, um fim previsto e etapas estipuladas que devem levar ao fim preestabelecido” (COELHO, 1989). A ação de Hitler apresenta características pertencentes à fabricação cultural. Podemos pensar que seu projeto, ao utilizar a arte e a cultura como “motivos” de justificação de seus atos, criou um processo de fabricação cultural que possuía muito bem arquitetado suas etapas e um objetivo preestabelecido: a purificação da raça ariana (e aqui está embutido o extermínio do povo judeu como parte fundamental do processo) e a transformação do império alemão em potência mundial, mostrando a superioridade da raça ariana representada pelo povo alemão.Para disseminar as idéias do Partido Nazista e colocar em prática seus planos, usou a publicidade como ferramenta de divulgação de sua filosofia. A utilização da linguagem publicitária foi de fundamental auxílio para a execução de seus projetos. Por meio dela, através de campanhas divulgadas em rádio, jornais, revistas, cartazes e televisão, induziu a população a aceitar e concordar com o que era proposto através dessas campanhas, conseguindo, assim, o consentimento da povo para suas práticas. As informações eram recebidas de forma diluída e imposta, característica da propaganda, considerada o mecanismo ideal para propagação de idéias dessa maneira, que constrói seu argumento de modo a não permitir à maioria dos ouvintes e/ou leitores o questionamento sobre a mensagem que está sendo imposta.Na área da saúde e da beleza humana também deveriam ser seguidos os exemplos clássicos. Pessoas com deficiências mental e física eram rejeitadas e confinadas a lugares separados do restante da sociedade considerada saudável. Campanhas publicitárias endossavam a idéia de que a separação dessas pessoas era a melhor atitude a ser tomada. Em certo ponto do seu governo, Hitler autorizou o assassinato de bebês deficientes, fato esse retratado no documentário de Peter Cohen. No campo das artes, foram organizadas exposições que comparavam fotografias de pessoas deficientes a pinturas expressionistas para mostrar à sociedade a degeneração das artes que estavam sendo produzidas. Essas exposições tinham o objetivo de impor à sociedade a não-aceitação desse tipo de arte. Em contra-partida, organizavam-se, anualmente, grandes exposições artísticas com quadros e esculturas que reverenciam os grandes pintores clássicos e, também, os artistas alemães que seguiam os modelos aceitos e admirados por Hitler.O ditador também incentivou a produção artística que retratava o “trabalho” do exército alemão. Patrocinou a produção artística de alguns pintores, enviados aos campos de batalha, para retratarem o cenário de guerra, de modo a ressaltar de maneira positiva o trabalho dos soldados. Na arquitetura, projetou e executou construções, sempre de grandiosas proporções, para mostrar o poder de seu império.A interferência de Hitler se deu em todas as áreas: política, educacional, econômica, social e cultural, que passaram a ser ditadas em conformidade com as regras impostas pelo Partido Nazista. Limitou o poder de criação e não ofereceu condições para a espontaneidade artística. Direcionou todos os meios para que os resultados saíssem de acordo com seus preceitos. Portanto, podemos afirmar que a Alemanha sofreu um processo de fabricação cultural, dirigido por Hitler e o Partido Nazista.Todas essas atitudes demonstraram a intolerância frente ao “diferente” e ao que não se enquadrasse aos padrões dos modelos impostos. Essa “não-aceitação” impulsionou a execução de verdadeiras atrocidades contra a humanidade, cometidas com a finalidade de “eliminar” tudo o que não estivesse dentro dos padrões culturais estabelecidos. Os resultados desse processo nos mostram o quão perigoso é abrir mão do discernimento, do senso crítico e da lucidez, fatores fundamentais para evitar que nos tornemos “massa de manipulação” de processos como o retratado no documentário. A grande contradição dessa “fabricação cultural” foi utilizar-se da arte e da cultura, que possuem como preceito fundamental a capacidade de diferenciação, “que move o indivíduo para longe da indiferença” (COELHO, 1989) e são instrumentos de conscientização, para um projeto que não tolerava o diferente e diluía as informações de maneira a manipulá-las para benefício dos projetos de Hitler e do Partido Nazista.

Referências
COELHO, Teixeira. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 1989. Coleção primeiros passos, 216.
COHEN, Peter. Arquitetura da destruição. Suécia, 1992. 121 min.

domingo, 9 de maio de 2010

Meu projeto de TCC

Escrevi dois projetos, de áreas diferentes: um em ação cultural e um em arquivo.
O escolhido foi o de ação cultural.
O tema é: "A biblioteca da Casa das Rosas: uma análise sobre seu acervo, serviços, usuários e sua interação com o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura."
Minha orientadora: Prof.ª
Tânia Callegaro.
Milanesi (1998) diz que uma boa biblioteca pode tornar-se um verdadeiro centro cultural.
Fico pensando como é o trabalho da biblioteca inserida em uma instituição cultural. Qual o papel que exerce efetivamente e qual o nível de interação entre ela e a instituição à qual pertence com relação ao trabalho de ação cultural. Existe? Sim? Não? Por que?
Esses são meus questionamentos iniciais... vamos ver como ficam com o desenrolar do projeto.
A Casa das Rosas é um lugar especial para mim. Um local onde posso ficar por horas sem sentir o tempo passar. Minha mente viaja toda vez que estou nela. O prédio é lindo. Fico imaginando as coisas que devem ter acontecido ali... como deviam ser as vidas das pessoas que passaram por aquela casa, a transformação da Paulista... Gosto de sentir a atmosfera que a casa possui... fico muito à vontade nela. Observo seus frequentadores, funcionários... enfim, é um lugar que me agrada muito.



Para quem não conhece a Casa das Rosas, acesse o site oficial: http://www.poiesis.org.br/casadasrosas/

Conheça a programação para o mês de maio, clique aqui.


Vinheta oficial:



Conheça a Casa das Rosas, ela fica na Av. Paulista, nº 37, perto da estação de metrô Brigadeiro.

sábado, 27 de março de 2010

Boa noite, Caio.

Pronta para dormir. Uma dorzinha de cabeça chata me incomoda, mesmo já tendo jantado.
Porta do quarto fechada. Duas voltas e a chave retinha, como sempre. Um cansaço. Luz apagada.A TV ligada. Som baixinho. Sleep pronto para os 60 minutos de todo dia.


Olho para a escrivaninha. Lá está o livro do Caio. De repente, num movimento nada premeditado, como se meu corpo agisse mais rápido que meu cérebro, lá estava eu deitada, com o livro ao meu lado.
Veio o impulso de ler. Há muito não lia antes de dormir. Na verdade, há muito deixei de ler. No máximo um texto ou outro ou, ainda, apenas as primeiras páginas de algum dos muitos livros comprados e não lidos, que me aguardam na estante ou na bolsa, durante a viagem de metrô, nos raros momentos em que consigo me sentar ou, então, em que não estou com dor de cabeça.


Sim, impulso. Não era vontade, pois o cansaço não dava brecha a este sentimento. Também não era falta de sono. Foi mais uma necessidade. E a luz continuava apagada, a cabeça pesando mais (cansada de tantos medicamentos, resolvi não tomar mais um ). Folheei o livro. Decidi ler a seleção de cartas. As que tinha escrito à mãe.
Deitada, apenas com a parca luminosidade da TV que exibia o início do ZOOM, comecei a leitura...

Sampa 7.2.79

Querida mãe,
estou aproveitando a ida do Augusto para mandar esta carta, escrita na redação mesmo, a senhora sabe, aquelas corridas de sempre. Ando sentindo falta de notícias daí...
(...)
Aqui tá tudo bem – hoje tá um dia de sol lindo, nem parece São Paulo. Acordei às 7 e meia da manhã com a dona Francisca chegando...
(...)
Estou sozinho em casa (hoje chega o Luiz Arthur, que vai ficar uns dias aqui) – Rofran foi fazer um filme em Pirapora, no interior de Minas Gerais, e eu estou até um pouco preocupado, porque Minas inteira está debaixo d’água, e Pirapora é uma das cidades mais atingidas. Ele ficou de telefonar e não telefonou, acho que a equipe de filmagem deve estar ilhada lá.


Fiquei muito contente com a aprovação das gurias no vestibular. Vai ser ótimo para elas, só espero que a Cláudia aguente aqueles demônios do curso de Letras, como a Rebeca ou o Bunse, professor de Linguística.
Interrompi, tivemos uma reunião, agora já é de tarde. Tá uma bagunça isso aqui. Saíram algumas pessoas da revista, acumulou trabalho, ficou meio baixo-astral. Durante a reunião tive uma discussão meio forte com a patroa. Ando meio ofendido com certas coisas – como o diretor marcar uma reunião às 9 da manhã, eu e outros chegamos antes das 9, e ele só pinta às 10 e meia, muito apressado, falando que a revista tá péssima, coisas assim. Falou que tínhamos que reduzir os textos, aumentar as fotos e o visual, que o “leitor não gosta de ler”. Eu disse que tinha irmãs adolescentes que adoravam ler, e que achava que a gente não devia colaborar com a alienação. Ele me chamou de obsoleto, eu fiquei puto e repliquei que minha formação foi feita antes de 64, e que se ele achava que cultura e leitura eram coisas obsoletas então íamos muito mal – e que se ele tava a fim de colaborar com o processo de castração mental da juventude brasileira pós-64, eu não estava. Por aí foi. Numa certa altura, até a senhora acabou entrando na briga. Ele disse que meus títulos pareciam livro antigo de História. Eu falei “minha mãe é professora de História, eu estudei muita História e se a juventude de hoje não sabe nem quem foi Getúlio Vargas é porque não se estuda mais História”. Voou pena. Suei, gritei. Todo mundo quieto em volta. Aí resolvi calar a boca. Afinal, como na fábula do lobo e do cordeiro: contra a força não há argumentos.



Mas ando de saco muito cheio com essas coisas. De repente tô trabalhando num lugar que me obriga a ir contra tudo o que penso e sinto. Não sei como resolver tudo isso. Mas tudo bem, to calmo e ponderado, embora a vontade seja de agredir todo mundo, dizer meia dúzia de verdades e sair pisando duro. Não vou fazer nenhuma loucura.
(...)
Caio
(ABREU, Caio Fernando. Caio 3D: o essencial da década de 1970. Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 331, 332)

Engraçado como sempre sou surpreendida pelo Caio.
Meu primeiro encontro foi no 3º ano da faculdade de Letras (ano 2000), durante uma aula de Literatura Brasileira com o professor João Luís Ceccantini. Ele nos deu o conto “Além do ponto”, para que o lêssemos e escrevêssemos nossas impressões. Tinha que ser entregue no final da aula. Não era uma análise. Era algo simples, explicou.
Impossível. Aquele conto não tinha nada de simples. E fiquei paralisada.
Não entreguei a tarefa ao final da aula. Não entreguei a tarefa no período da tarde. Não entreguei a tarefa no dia seguinte.
Cheguei ao ponto em que não conseguia passar daquele ponto, por mais que tentasse.
Ainda hoje, não tenho como explicar o que aconteceu. Foram duas semanas pensando, chorando, com um nó na garganta. Nada passava. A única coisa em que pensava era no conto. E quanto mais pensava, menos conseguia fazer.
Aquela chuva, aquela desolação, aquele querer acreditar...
Cheguei ao ponto estático: não podia voltar, não podia seguir adiante.
Apenas semanas depois entreguei meu trabalho.
Esse encontro foi marcante.
Foi o encontro com o Caio, o encontro comigo mesma, o encontro com o verdadeiro contexto em que me encontrava.
Daquele dia em diante, sempre sou surpreendida por Caio. Seja num conto, num texto, numa carta.
E assim foi esta noite.


Um sorriso me escapou, ao ver a coincidência nas mães professoras de História.
Não, não é uma situação incomum. Nada de extraordinário para a maior parte das pessoas. (Bem-vinda ao mundo real, dizem os “experientes”.) O problema é que não é normal para mim. E não quero, jamais, achar que esta situação é trivial e que deva ser ignorada por ser inevitável. Não, não sou ingênua. Não vou mudar as pessoas, muito menos o mundo. Mas não dá para encarar uma situação dessas de forma a tornar-me conivente ou, ainda, de forma a aceitar e até mesmo internalizar esta ideia.
Mais uma vez agradeço ao Caio. Minha cabeça parou de doer. Com relação a este assunto, assim como ele, “Não sei como resolver tudo isso”, mas estou serena agora. E pronta para dormir.


“Não vou fazer nenhuma loucura”.

domingo, 21 de março de 2010

À procura...


Estou à procura de um tema para meu projeto.
Será uma atividade conjunta entre 3 disciplinas da faculdade: Ação Cultural, Editoração Eletrônica e Planejamento de unidades de Informação.
Preciso pensar rápido... e, quanto maior a pressa, menor o raciocínio...